segunda-feira, 16 de maio de 2016

Couchsurfing no Marrocos

Mulheres, este post é pra vocês.

Seguinte: vários lugares do mundo são machistas, mas o Marrocos é o primeiro da minha lista de locais visitados. Nunca sofri tanto assédio na rua e virtual quanto no um ano que morei lá. Acho o Brasil mais perigoso para mulheres, mas definitivamente, o Marrocos é mais chato. 

Como o país não é laico, o povo marroquino está submetido a uma lei civil muçulmana que impede pessoas de sexo opostos morem juntas, sexo antes do casamento, etc. etc. E para casar, além de achar um "amor", o homem marroquino tem que ter dinheiro suficiente para pagar o dote e bancar a esposa. Dito isto, teoricamente, todo homem marroquino solteiro é virgem. Tenha ele 15 ou 30 anos. E bem sabemos como a espécie humana se comporta, e que "o que os olhos não vêem a legislação não vê".

O que acontece é uma esquizofrenia sem tamanho. A maior parte dos homens vê as mulheres ocidentais como a oportunidade para tirar "a barriga da miséria", seja apenas para um romance, ou até mesmo para um relacionamento a longo prazo: namoro ou casamento. As ocidentais não pedem dote, e ainda podem dar acesso a um passaporte novo. Não me levem a mal, não são todos, mas o número de casais de verão ou a longo prazo que existem, em que um homem é marroquino e a mulher é estrangeira é alto. 

Já o oposto não acontece tão fácil, porque as mulheres tem bem menos liberdade para flertar, andar sozinha, etc., além de quê, para um casamento misto entre uma mulher marroquina e um homem não marroquino acontecerem, o homem deve obrigatoriamente converter-se ao islã. No oposto disso, a mulher estrangeira pode guardar sua fé cristã-judaica-budista-ateísta.

Isso tudo para voltar ao tema do Couchsurfing: olho guria!
Couchsurfing no Marrocos, com muito cuidado! Prefira mulheres, e caso hospede-se com homens, prepare-se para em 90% dos casos lidar com assédio. 

Caso esteja de mudança para lá, leia o que deixei escrito no meu perfil do Couchsurfing no período que fiquei lá, depois de já não aguentar mais receber mensagens de flerte na minha caixa de mensagens.

"NOT A DATING PAGE!!!
(note Mainly written for Moroccan guys, since online harassment has started since I've moved here)
Just write me if you need a couch and/or we really share the same values/interests and this would allow a genuine friendship. I'm a feminist!
I have a special album with screenshots of flirting messages and If I consider your message a flirt, you'll be screenshot and posted in my album. 
I use this network for hospitality and it annoys me to receive messages like "hi" or "hi, how tall are you?" "I want to meet" , always coming from men.
Let's all avoid that! This is not tinder! "
Eu saí para tomar um café com dois moços que me escreveram pelo Couchsurfing, e não começaram com conversa mole mas com um texto bem elaborado e não machista para compartilhar cultura . No fim, eles se assustaram com meus papos feministas e nunca mais nos vimos.

Sobre os outros que estavam me escrevendo, criei um álbum de fotos com os prints das conversas furadas deles.  Porque né, se tem algo de bom que a internet nos deu é o direito de fazer print das bobagens alheias.

Pra dar mais exemplos do que eu estou falando, em 2012 um anfitrião marroquino vivendo na Inglaterra estuprou a hóspede dele. Não que isso vá sempre acontecer, mas eu nunca na vida fui tão tratada como um objeto do que quando vivi no Marrocos. Pra evitar problemas, quando necessário, dizia que era casada, porque deixo de ser um objeto sem dono para ser o objeto de valor de alguém.
Aproveitando de um outro relato do blog "Destination Anywhere", a autora também explica da questão do negócio Couchsurfing no Marrocos. Muita gente usa a página para vender serviços e hospedagem. Um esquema meio marroquino. Te hospeda, mas te obriga a ir fazer o tour no deserto com a empresa da família dele. Ou comprar umas coisas na lojinha do primo. Leiam esse relato, porque é muito divertido e tem outras histórias. Quando me hospedei em Ouarzazate, acabei deixando um bom dinheiro pela comida oferecida pela mulher. Claro que eu adoraria dividir os custos e oferecer algo em troca, mas ficou clara a relação naquele momento, de que ter um couchsurfer em casa ajudava o orçamento doméstico daquela família.

Em algum momento preparo um post mais detalhado sobre segurança/comportamento de mulheres no  Marrocos. Tem coisas importantes como evitar contato visual com homens ao andar na rua, que é importante saber. Já de volta ao Brasil, também ouvi umas histórias meio arrepiantes de mulheres que  desapareceram no Marrocos. Mas infelizmente, há poucos dados sobre isso.

Foi na minha casa no Marrocos que eu também criei uma longa lista de regras disponível no Dropbox, que pode ser útil para outras pessoas hospedando. Sugiro sempre definir bem os limites para os hóspedes.
Acompanhem meu blog, e se tiverem mais dúvidas, comente ou envie mensagem pela parte do contato. Boa viagem!


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